Esse recurso é poderoso na redação do Enem

Coesão referencial é um dos aspectos mais importantes na construção de um texto dissertativo na redação do Enem. Ela tem tanta importância que uma das competências avaliadas é justamente o uso de elementos coesivos e o respeito à tipologia textual. Caso queira saber mais sobre o uso da coesão textual na redação do Enem e dos vestibulares, clique aqui.

Alguns elementos linguísticos têm a função de estabelecer referência e vincular partes do texto.
A coesão referencial pode se dar por substituição, por uso de expressões nominais, por uso de pronomes e por elipse.

Substituição: Quando um substantivo, verbo ou mesmo trechos do texto são substituídos por sinônimos ou expressões equivalentes, evitando assim a repetição. Exemplo:
Minha irmã bateu o carro ontem. A parte frontal do automóvel ficou totalmente avariada.
Uso de expressões nominais: Em alguns casos, a coesão ocorre pelo uso de expressões nominais definidas -um tipo de reiteração baseado em nosso conhecimento do mundo (de cultura, do nosso cotidiano), e não apenas em nosso conhecimento linguístico.



Veja:
Há mais de 30 anos, o cantor e compositor Roberto Carlos grava um especial de fim de ano para a Rede Globo. O rei interpreta as composições que são sucesso entre o grande público.
A coesão também pode ocorrer por uma relação parte-todo. Por exemplo: as palavras fruta e maçã.
Veja
Adoro frutas. Maçã, principalmente, é uma delícia.
Uso de pronomes: Observe as palavras destacadas no texto a seguir:

Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar:
Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em São Paulo.

Luis Fernando Veríssimo, O Sentido da Vida.

Pronome, em parte de sua significação, é a palavra que representa os seres ou se refere a eles.
Observe, no texto citado de Luis Fernando Veríssimo, que o pronome "ela" substitui "minha mulher", "nós" remete a "eu e minha mulher", e "dela" transmite ideia de posse.

Veja os tipos de pronome, seguidos de alguns exemplos:

• Pessoais: eu, tu, ele, me, nós, te, os.
• Possessivos: meu, seu, tua, nosso.
• Demonstrativos: este, esse, aquilo, isso, isto.
• Indefinidos: alguém, ninguém, nenhum, todo, algum.
• Relativos: que, o qual, onde.

Elipse: Esse tipo de coesão consiste na omissão de uma expressão recuperável pelo contexto, evitando assim a sua repetição. Exemplos:

Maria foi ao cinema, onde O encontrou seus amigos.
Na Copa do Mundo de 2006, o Brasil não foi o vencedor, ao contrário do que aconteceu na de 2002.

Veja este modelo de redação


No primeiro exemplo, a palavra omitida é o pronome pessoal "ela" ou o nome próprio "Maria", enquanto no segundo exemplo foi omitida a expressão "Copa do Mundo". Isso é bem legal de perceber e faz parte do processo de estudo a busca por textos que ajudem a entender aspectos importantes das provas. Essa mudança de mentalidade é própria de métodos de estudo que se voltam para o Enem. Clique aqui para conhecer um deles.

Como se conjuga um empresário

O texto a seguir, do escritor cearense Mino, é um exemplo de coerência sem coesão
Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se. Perfumou-se. Lanchou. Escovou. Abraçou. Beijou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou. Advertiu. Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se. Examinou. Leu. Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Conferiu. Vendeu. Vendeu. Ganhou. Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou. Safou-se. Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-se. Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu. Negou. Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou. Chegou. Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou. Beijou. Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu. Fungou. Babou. Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu. Despiu-se. Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou. Sonhou. Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou. Despertou. Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Rasgou. Engoliu. Bebeu. Dormiu. Dormiu.
Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se...

Redação do vestibular comentada

Exemplo de redação
Como no tempo da escravidão
A escravidão foi oficiaImente abolido no Brasil há mais de um século, mas os condições de trabalho que existiam naqueles tempos ainda não acabaram, pois elas não estão atrelados a uma lei escrita num papel, mas o fatores como má distribuição de rendo e exclusão social. Em muitos lugares do país, há pessoas que trabalham por muitos horas e em péssimas condições, apenas em troca de comido e moradia, o que fere a dignidade humano.
Antes da Lei Áurea, a cor de um indivíduo determinava o seu destino no mundo do trabalho. O negro tinha uma baixa expectativa de vida, dormia e se alimentava mal e trabalhava por muitas horas seguidas nas lavouras ou na mineração. Não tinha direito ao lazer, à posse de bens, enfim, não usufruía dos mesmos direitos que a sociedade bronca. Hoje, em uma relação parecida, muitas pessoas são excluídas da sociedade por sua pobreza, como aquelas que sobrevivem recolhendo lixo reciclável nos aterros das cidades ou as que trabalham no setor agropecuário em troco de solários muito baixos.
Enquanto o escravo não podia votar ou desfrutar suo liberdade, essas pessoas que vivem na miséria não podem comprar bens de consumo ou fugir do trabalho degradante, pois não têm escolha. Os trabalhadores rurais, em especial, estão sujeitos às relações de trabalho mais injustas: eles são muitos vezes ameaçados pelos contratadores de empreitada, os "gatos" que prometem trabalhos e bons pagamentos, algo que, na maioria das vezes, não corresponde à realidade.
Para reduzir essas formas exploratórios de trabalho, que vão contra a dignidade humano, nossos políticos deveriam estimular o fiscalização e aplicação de leis contra as práticos que cerceiam a liberdade do trabalhador. Esse seria um primeiro passo paro contarmos com uma realidade mais digna, hoje e no futuro.
(Fonte: redação de voluntário para a Abril Coleções)



Análise da redação

POSICIONAMENTO CLARO: essa redação é um bom exemplo de como a simplicidade pode resultar em um texto bastante aceitável. Não há grande profundidade argumentativa ou originalidade, é verdade, mas o autor soube encadear bem suas ideias para reforçar seu ponto de vista de que muitas relações de trabalho permanecem dentro dos padrões do trabalho escravo. No primeiro parágrafo, expôs sua tese: o fim da escravidão, no Brasil, não encerrou definitivamente as condições de trabalho daquele sistema. No segundo, descreveu uma situação histórica, a escravidão; no terceiro traçou paralelos entre a escravidão e algumas relações de trabalho da atualidade. Por fim, no último parágrafo, propôs uma intervenção transformadora.

INTERDISCIPLINARIDADE: o candidato soube relacionar situações históricas ao tema discutido na redação. Os detalhes na descrição do cotidiano do negro na época da escravidão demonstram aproveitamento dos conteúdos vistos no Ensino Médio. Ao associar essa situação histórica a acontecimentos da atualidade - como catadores de lixo nas cidades e pessoas contratadas por "gatos" (exemplo extraído de um dos textos da coletânea) -, o autor da redação demonstrou olhar crítico.

DOMÍNIO DA LÍNGUA: a dissertação analisada é um bom exemplo do respeito à norma padrão. Não há erros ortográficos, de pontuação nem de concordância e há bom uso das conjunções. O desvio da norma padrão pode contar pontos negativos na redação. Caso queira ler mais sobre isso, clique aqui.

Exemplo de redação dissertativa do Enem com comentários


Mudanças para poucos
Valores como a satisfação pessoal do trabalhador e seu bem-estar vêm ganhando espaço no mercado de trabalho: hoje é possível trabalhar do computador ou celular, o que poupa tempo de deslocamento até o local de trabalho e tem impactos evidentes sobre a qualidade de vida. Essa tendência de valorização das necessidades do trabalhador ainda é, no entanto, um privilégio das classes média e alta, que têm maior acesso à tecnologia, às universidades e, consequentemente, compõem a mão-de-obra qualificada do mercado de trabalho.
A parcela mais pobre da população permanece condenada a trabalhar pela sobrevivência, muitas vezes sob condições indignas e semelhantes às do trabalho escravo. Fazendas em regiões consideradas mais desenvolvidas, como o estado de São Paulo, empregam os bóias-frias na colheita da cana-de-açúcar. Esses trabalhadores são contratados de forma temporária, por pequenos salários e sob condições de trabalho que oferecem risco à saúde, como o manejo do facão para cortar a cana, a longa jornada de trabalho e o transporte sem segurança na carroceria de caminhões.
A legislação trabalhista do Brasil limita a quantidade de horas de trabalho e estabelece relações de assistência entre empregador e empregado. Grande parte da força de trabalho, porém, está desprotegida pela lei, pois trabalha sem carteira assinada. A miséria e a falta de informação fazem com que o trabalhador abdique de seus direitos e se submeta a relações de trabalho cruéis.
Enquanto nossos governantes não investirem em políticas inclusivas, como programas de redistribuição de renda e de estímulo à formalização do emprego, continuarão a existir, de um lado, o trabalhador qualificado que vive as mudanças nas relações de trabalho e, de outro, os boias-frias no campo ou catadores de lixo que arrastam carroças pelas ruas das grandes cidades, entre muitas outras formas de trabalho que retalham a dignidade humana.

(Fonte: redação de voluntário para a Abril Coleções)
Análise da redação



ENTENDIMENTO DA PROPOSTA E DEFESA DA OPINIÃO COM BONS ARGUMENTOS: toda prova de redação é também uma prova de leitura. Percebe-se que o estudante compreendeu e usou os textos da coletânea para compor sua redação. Para isso, elegeu boas ideias para :e V:e' c ponto de vista de que a dignidade é um fator ignorado em muitas relações de trabalho. Contrastou a realidade da mão de obra (sem hífen) qualificada e da parcela mais pobre da população no primeiro parágrafo. No segundo parágrafo, usou um exemplo de relação de trabalho que fere a dignidade: os boias-frias (observe que foi usada a grafia pós-reforma ortográfica, que prevê a queda do acento agudo nos ditongos "ei" e "oi", quando não se trata da tônica de uma oxítona). No terceiro, teceu uma crítica à legislação trabalhista, que não protege grande parte dos trabalhadores. No último parágrafo, o candidato "amarrou" bem o texto ao retomar os exemplos do primeiro e segundo parágrafos.

CONHECIMENTO DE TEMAS DA ATUALIDADE: o exemplo do uso de mão de obra temporária em fazendas no Brasil e o olhar crítico a respeito do trabalho informal atestam repertório e acompanhamento dos fatos da atualidade.

PROPOSTA DE UMA INTERVENÇÃO TRANSFORMADORA: ao levantar soluções para resolver o problema discutido - "Enquanto nossos governantes não investirem em políticas inclusivas, como programas de redistribuição de renda e de estímulo à formalização do emprego"-,o candidato atendeu uma das exigências explícitas do Enem: a necessidade de elaborar propostas transformadoras e condizentes com os direitos humanos.

Proposta de redação analisada do Enem 2010 (adaptada)


Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema O Trabalho na Construção da Dignidade Humana, apresentando experiência ou proposta de ação social, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

O que é trabalho escravo
Escravidão contemporânea é o trabalho degradante que envolve o cerceamento da liberdade
A assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, representou o fim do direito de propriedade de uma pessoa sobre a outra, acabando com a possibilidade de possuir legalmente um escravo no Brasil. No entanto, persistiram situações que mantêm o trabalhador sem possibilidade de se desligar de seus patrões. Há fazendeiros que, para realizar derrubadas de matas nativas para formação de pastos, produzir carvão para a indústria siderúrgica, preparar o solo para o plantio de sementes, entre outras atividades agropecuárias, contratam mão de obra utilizando os contratadores de empreitada, os chamados "gatos". Eles aliciam os trabalhadores, servindo de fachada para que os fazendeiros não sejam responsabilizados pelo crime.
Trabalho escravo se configura pelo trabalho degradante aliado ao cerceamento da liberdade. Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez que não mais se utilizam correntes para prender o homem à terra, mas, sim, ameaças físicas, terror psicológico ou mesmo as grandes distâncias que separam a propriedade da cidade mais próxima.
Disponível em: http://www.reporterbrasil.org.br. Acesso em: 2/9/2010 (fragmento).


Você pode aprender a estudar melhor se tiver uma tutoria que seja eficaz. A melhor que conheço é ainda a do curso Segredos do Enem. ele não é um curso de redação como o Missão Enem, mas ajuda todo estudante a criar hábitos de estudo e auxilia de forma a mudar a mentalidade para que o conteúdo estudado seja melhor aproveitado. Há quem pergunte se o Segredos do Enem é bom e Funciona para o vestibular e minha resposta é seguramente sim. Só conferindo para ver.

Exemplo de redação dissertativa (análise comentada)


Escher, Platão e o real imaginário
O quadro "Relatividade", de Escher, mostra um mesmo ambiente, porém sob ângulos visuais diferentes, transmite a impressão de ser outro lugar. Em sociedade ocorre algo semelhante. Uma instituição quando idealizada apresenta certas características, todavia ao ser viabilizada, efetivamente, essa mesma instituição ganha novas conotações. É como girar o quadro de Escher: o projeto de algo apresenta uma imagem que pode não ser a mesma quando tornar-se real.
A instituição da igreja Católica, por exemplo, apresenta dogmas como a existência de um Deus único, onipotente e misericordioso. Criou-se essa imagem primordial de benevolência e tolerância. Porém, em meados do século XVI, em vista a reforma Protestante, uma vertente da Igreja, chamada Inquisição, foi posta em prática. Fogueira aos hereges e cerceamento aos opositores da instituição foram os preceitos reais vividos pela população. A imagem de compreensão e acolhimento foi substituída pela repressão e pela violência nada idealizadas.
O filósofo Platão tentou explicar por meio da Teoria das Ideias essa dualidade entre a imagem projetada e a real. Para ele, todas as formas existentes no mundo físico são reflexos das formas ideais, presentes somente no "mundo das ideias". Estas são perfeitas e as que temos alcance são apenas reflexos, por isso, passíveis de imperfeição. Passando da filosofia para o cotidiano, a formação de um estado totalitário tenta mesclar símbolos (imagens) com o concreto. Hitler prometia um Estado forte embasado em arianos nacionalistas e amantes da pátria. Essa seria a imagem ideal, na qual muitos alemães acreditavam, porém, de fato, o que se teve foi um Estado xenófobo, racista, autoritário e violento, isto é, real, e como disse Platão, passível de (muitos) erros.
Assim como o símbolo para Gilbert Durant culminava em soluções apaziguadoras aos problemas, para Platão a ideia é a própria solução, é perfeição. Inegável que as instituições sejam perfeitas em nosso imaginário, além disso, é assim que muitos preferem as ver: a Igreja Católica sem máculas, o Nazismo sem violência. No entanto, essa é uma perspectiva utópica. De fato, a imagem não é o objeto real, é o seu reflexo o qual podemos moldar de acordo com nosso ponto de vista. Assim sugeriu Escher com seu quadro multifacetado.
Fuvest 2010. Algumas das melhores redações.

BOM REPERTÓRIO: o candidato escolheu dois exemplos bem-sucedidos de instituições (recorte escolhido do tema) para ilustrara contraposição realidade da instituição X imagem criada: Igreja Católica (dogma Deus amoroso X Inquisição) e Partido Nazista alemão (amor à pátria X violência e xenofobia). A escolha de situações históricas reconhecidas no meio acadêmico reflete aproveitamento dos estudos do Ensino Médio. Mas, atenção - demonstrar conhecer fatos e personagens históricos não é garantia de que a redação será bem avaliada: as referências devem ser coerentes com o tema abordado e usadas para reforçar o ponto de vista.
ENCADEAMENTO: o candidato encadeou ideias com habilidade, relacionando grandes nomes pertencentes a diferentes áreas de conhecimento (e de épocas distintas) e fatos históricos. No último parágrafo, o autor retoma o quadro de Escher, citado no primeiro parágrafo: retomar ideias ou uma imagem usada no início do texto pode ser uma boa estratégia para "amarrar" a redação.

A coesão textual na prova do vestibular

Neste artigo vamos ler mais uma vez um texto bem escrito como forma de juntar bagagem cultural que nos ajude na hora de escrever a dissertação no vestibular. A redação continua sendo uma prova muito importante na nota final e, em alguns casos, é critério de eliminação em concursos públicos.


Com vocês, os Pierres Roulantes! Não fosse uma briga de cabeças coroadas no século 13, Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts poderiam ter o nome de sua banda, Rolling Stones, grafado em francês. Isso mesmo: no idioma de Baudelaire e não na língua de Oscar Wilde. Há 700 anos. a Inglaterra perdeu para a França extensas pós-sessões no continente europeu. De birra, a corte fez do uso da língua inglesa uma reação patriótica contra a França. Até então, o inglês era coisa de camponeses,
Desdenhada pela literatura e imprestável para os registros do reino por ser considerada pouco elegante e carente de vocabulário para expressar ideias elevadas. Entre os nobres, o francês era o idioma oficial.
William Shakespeare seria um dos primeiros a redimir a língua materna ao escrever 37 peças teatrais com um vocabulário de mais de 30000 palavras. Mas o triunfo do inglês se daria mesmo a partir do século 19, enquanto a Inglaterra se consolidava como império colonial. A supremacia da Inglaterra é coisa do passado, mas o idioma de Shakespeare se firma como língua ubíqua e já é falado por cerca de 1,5 bilhão de pessoas.
As idas e vindas dos homens tiveram mesmo importante papel na evolução das línguas. Invasões, guerras e abertura de rotas de comércio foram situações propícias ao aprendizado de uma segunda ou terceira língua. O grego, o persa, o chinês e o latim são exemplos de línguas que reinaram na Antiguidade - bem como português, espanhol e francês,
no tempo da expansão marítima. Detalhe: por essa época, o latim ainda corria solto. Em latim eram as cartas escritas pelos reis Fernando e Isabel, da Espanha, e entregues a Cristóvão Colombo para eventuais encontros com soberanos de terras desconhecidas. Também na língua do Lácio, o coração do Império Romano, eram os livros do cientista inglês Isaac Newton, em pleno século 17. A predileção era comum entre eruditos que versassem sobre temas como filosofia e química e quisessem garantir a compreensão de suas ideias. Escrever na língua materna era condenar seu trabalho ao esquecimento. A primazia nas terras europeias fez com que o latim figurasse entre os idiomas que mais deram frutos. Dele derivam as línguas ditas românicas, ou seja, com raiz no latim. Português, italiano, romeno, espanhol, córsego e catalão são originários do latim.
A preponderância de uma língua por longos séculos e em extensas áreas contrasta com uma imensa variedade de dialetos de grupos diminutos. Entre os países que têm maior número de idiomas vivos estão Papua Nova Guiné (817), Indonésia (717) e Nigéria (470). A África é o continente com maior diversidade: por lá há 2035 línguas e dialetos. No Báltico, a pequena Lituânia abriga uma comunidade de 535 pessoas que falam o karaim. A tendência é de que o dialeto desapareça. As línguas têm um ciclo de vida com começo e fim. Preservá-las é respeitar a diversidade.
(AVENTURAS NA HISTÓRIA, novembro/2010. Adaptado)

1. Identifique duas frases que contenham mais de duas vírgulas e explique a função desse sinal de pontuação em cada caso.

2. Indique duas conjunções que poderiam substituir (sem alteração de sentido) o "mas" no seguinte período: "William Shakespeare seria um dos primeiros a redimir a língua materna ao escrever 37 peças
teatrais com um vocabulário de mais de 30 000 palavras. Mas o triunfo do inglês se daria mesmo a partir do século 19, enquanto a Inglaterra se consolidava como império colonial".

Exercício de redação - reflexão crítica

Fazer a leitura de textos bem escritos é fundamental para ir bem numa prova de redação. Por isso mesmo é que selecionamos alguns textos e proporcionamos aos nossos leitores a possibilidade deles resolverem exercícios que estimulam a reflexão. Veja este texto abaixo e faça as questões propostas.


aprenda a fazer uma redação


Exercícios para reflexão crítica

A identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção simbólica e discursiva. (...) A identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Isso significa que sua definição - discursiva e linguística - está sujeita a vetores de força, a relações de poder. Elas não são simplesmente definidas; elas são impostas. Não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo sem hierarquias; são disputadas.
Não se trata, entretanto, apenas do fato de que a definição da identidade e da diferença seja objeto de disputa entre grupos sociais simetricamente situados relativamente ao poder. Na disputa pela identidade está envolvida uma disputa mais ampla por outros recursos simbólicos e materiais da sociedade. A afirmação da identidade e a enunciação da diferença traduzem o desejo dos diferentes grupos sociais, assimetricamente situados, de garantir o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade e a diferença estão, pois, em estreita conexão com relações de poder. O poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das relações mais amplas de poder. A identidade e a diferença não são, nunca, inocentes.
Podemos dizer que onde existe diferenciação - ou seja, identidade e diferença - aí está presente o poder. A diferenciação é o processo central pelo qual a identidade e a diferença são produzidas. Há, entretanto, uma série de outros processos que traduzem essa diferenciação ou que com ela guardam uma estreita relação. São outras tantas marcas da presença do poder: incluir/excluir ("estes pertencem, aqueles não"); demarcar fronteiras ("nós" e "eles"); classificar ("bons e maus"; "puros e impuros"; "desenvolvidos e primitivos"; "racionais e irracionais"); normalizar ("nós somos normais; eles são anormais").
A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as operações de incluir e de excluir. Como vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que não somos". A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações sobre quem pertence e sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído.
Afirmar a identidade significa demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre "nós" e "eles". Essa demarcação de fronteiras, essa separação e distinção supõem e, ao mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações de poder. (...) Os pronomes "nós" e "eles" não são, aqui, simples categorias gramaticais, mas evidentes indicadores de posições de sujeito fortemente marcadas por relações de poder: dividir o mundo social entre "nós" e "eles" significa classificar. O processo de classificação é central na vida social. Ele pode ser entendido como um ato de significação pelo qual dividimos e ordenamos o mundo social em grupos, em classes. A identidade e a diferença estão estreitamente relacionadas às formas pelas quais a sociedade produz e utiliza classificações.
As classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade. Isto é, as classes nas quais o mundo social é dividido não são simples agrupamentos simétricos. Dividir e classificar significa, neste caso, também hierarquizar. Deter o privilégio de classificar significa também deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos grupos assim classificados.
A mais importante forma de classificação é aquela que se estrutura em torno de oposições binárias, isto é, em torno de duas classes polarizadas. O filósofo francês Jacques Derrida analisou detalhadamente esse processo. Para ele, as oposições binárias não expressam uma simples divisão do mundo em duas classes simétricas: em uma oposição binária, um dos termos é sempre privilegiado, recebendo um valor positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa. "Nós" e "eles", por exemplo, constitui uma típica oposição binária: não é preciso dizer qual termo é, aqui, privilegiado. As relações de identidade e diferença ordenam-se, todas, em torno de oposições binárias: masculino/feminino, branco/negro, heterossexual/homossexual. Questionar a identidade e a diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam (...)
SILVA, Tomaz Tadeu. Identidade e Diferença:a Perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. Adaptado. Fonte: vestibular UFJF 2011.
A questão abaixo estava na prova de vestibular da UFJF no ano de 2011. Além da prova de Português, ouvi dizer que o conhecimento de inglês era bastante extenso. Por isso mesmo é importante aprender inglês para viajar para os EUA e também para o vestibular. Reescreva o trecho destacado no texto, substituindo o termo sublinhado por outro marcador discursivo que mantenha a relação sintático-semântica por ele estabelecida.